A consciência de que a nossa prática exige reflexão e avaliação constante é uma primazia do ofício da docência. Tal postura implica no autodesenvolvimento e na busca da melhoria da qualidade do que entregamos aos nossos alunos: nosso tempo e nosso conhecimento. Nesse sentido, ao intentar, tanto pela verificação das aprendizagens dos nossos alunos como das práticas pedagógicas adotadas, é necessário partir de alguns parâmetros e conceitos desenvolvidos ao longo dos estudos da nossa área, ou seja, precisamos entender os fundamentos que embasam tanto os documentos de orientação pedagógica vigentes – como a BNCC, por exemplo – como as concepções que permeiam a nossa prática para avaliar o desempenho de todos os sujeitos de uma sala de aula.

Assim, a fim de não estender nossa discussão para os estudos incipientes da linguística, ainda que reconheçamos os mesmos como fundantes de muitos pensamentos e teorias em voga hoje, tomemos como ponto de partida os estudos a partir da década de 1950-1960, os quais são caracterizados pela chamada virada pragmática. Essa transfiguração da forma de ver o objeto de estudo – a língua – que até então era vista a partir de concepções puramente  estruturalista, formalista e funcionalista, agora, tem como sua característica mais evidente, a consideração de aspectos da língua em uso na análise linguística. Propriedades como a discursividade, aspectos sociolinguísticos, as dicotomias usadas para explicar o fenômeno da linguagem, bem como os estudos pautados na cognição passam a fazer parte do escopo dos estudos acerca da língua.

Por isso, a partir desse novo enfoque dado à linguística, passou-se a conceber seu objeto do estudo como atividade discursiva sociointerativa situada. Ou seja, entender a sua realização – o texto – como um evento dotado de nuances passíveis de estudo como a forma, o funcionamento e seus aspectos discursivos, como as condições de produção e recepção, dentre outros, caros ao discurso.

Compreender o fenômeno linguístico sob esse prisma reflete numa mudança das práticas de leitura, produção e interpretação textual nas nossas aulas de língua portuguesa, pois, compreender o “evento” texto dessa forma, exige sair da prática pedagógica normativa da língua – que prioriza somente a gramática – e passar a considerar o estudo de textos na sala de aula pautados na reflexão. Tal comportamento vai ao encontro dos trabalhos de ensino da língua a partir dos gêneros textuais propostos por Schneuwly e Dolz, por exemplo, autores de referência na nossa área, os quais, assim como Marcuschi, privilegiam estudar a língua portuguesa a partir do texto.

Isto não quer dizer que a gramática não tenha de ser considerada. Afinal, não fazemos o uso totalmente livre da língua, a mesma é regida por certas estruturas mais ou menos fixas para que possamos ser compreendidos no processo de enunciação. Porém, é necessário “ampliar o leque”, não reduzir as aulas de Língua Portuguesa somente ao sistema de regras. Afinal, “o falante da língua deve fazer-se entender e não explicar o que está fazendo com a língua.” (MARCUSCHI, 2008,  p.57)

E você, professor, o que você prioriza na suas aulas? Como você inicia uma unidade de estudo/plano de aula/sequência didática? O que você considera mais importante que seus alunos dominem?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *